Congresso da Medicina Popular Ano 2014 – Palestra de Maria Feliz
O tema:
ALQUIMIA VERDE – ESPAGÍRIA VEGETAL
É estranho que, contrariamente ao que acontece, por exemplo, com a homeopatia, remédios espagíricos não sejam conhecidos em Portugal.
A Espagíria existe há bastante mais tempo que a homeopatia e é interessante verificar que tanto na medicina tradicional chinesa como na Ayurveda se encontram os mesmos princípios alquímicos existentes na medicina tradicional europeia, a Espagíria.
A Espagíria é um antigo processo de produção de remédios globais isentos de efeitos secundários.
Através dos seus métodos de trabalho, o espagirísta associa a eficácia de plantas, minerais, metais e animais (p. ex. corno de veado) no plano da substância, da alma e do espírito, para assim ser possível atingir toda a sua força curativa. O objetivo do processo é a purificação e o aumento da eficácia.
No universo das plantas medicinais, “alquimia verde” é a aplicação de conhecimentos e métodos alquímicos ou paraquímicos milenares, que têm como objetivo a preparação de tinturas, essências e outros produtos, preferencialmente a partir de plantas e ervas.
Existem atualmente muitos e variados sistemas de remédios espagíricos "modernos". Por esse motivo, as regras para a sua produção também são diferentes, o que se vai reflectir nas suas possibilidades de aplicação.
Quem atualmente trabalha segundo o sistema espagírico recorre ainda a alguns processos de produção originais dos antigos filósofos e médicos. Infelizmente, são já muito poucos os espagíristas que produzem os seus remédios segundo a "Mestra Natureza".
O médico alemão da Idade Média Theofrastus Bombastus von Hohenheim, que viveu aproximadamente entre 1493 e 1541 e se auto intitulava PARACELSUS, é conhecido como o fundador da espagíria na Europa. Paracelsus não foi apenas médico, mas também filósofo, teólogo, astrólogo, naturalista e alquimista, tendo produzido diferentes remédios ao longo da sua vida, desde simples preparações de ervas oriundas da medicina popular até famosas preparações altamente complexas de plantas, metais, animais (por exemplo, veneno de cobras) ou pedras preciosas. Isso tem de ser entendido como um altíssimo escalão de arte hermética, que não deve ser confundido com a ideia histórica da "arte de fazer ouro". Aqueles que então curavam verdadeiramente quiseram diferenciar-se, adotando a designação de "espagíristas".
Os primeiros passos da verdadeira arte hermética ainda hoje são desconhecidos, embora se saiba que as formas de preparação hermético-espagírica eram já do conhecimento de muitas culturas antigas, como por exemplo, na antiga China, na Índia e entre os antigos Egípcios. A medicina indiana Uñani foi levada pelos muçulmanos para a Índia, constituindo um avanço da antiga medicina grega. A alquimia das escolas ocidentais surgiu principalmente da tradição egípcia. Os Árabes foram os principais agentes da transmissão da alquimia teórica e prática aos Europeus, que vieram a fundi-la com a tradição cristã. Entre as fontes históricas europeias sobressaem os escritos de PARACELSUS, havendo até vários institutos que têm o seu nome.
Da medicina popular, conhecemos, entre outros produtos, chás medicinais, cataplasma, pomadas, xaropes, óleos e tinturas. Enquanto na preparação de tinturas simples os resíduos de plantas após a extração não têm qualquer outra utilização, preparações espagíricas de plantas mantêm sempre os sais obtidos por incineração seguida de calcinação dos resíduos das plantas. Esses resíduos, por sua vez, eram tornados visíveis mediante um determinado processo e utilizados para a preparação do remédio. A experiência tem mostrado que esses sais possuem grandes poderes curativos, pelo que também são frequentemente utilizados sozinhos.
Tal como todos os métodos alquímicos de preparação, a espagíria considera os três "PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS", também designados de "ESSENCIAIS", como sendo os suportes essenciais das forças curativas. A estes três essenciais foram dados os nomes de "MERCÚRIO", "ENXOFRE" e "SAL", mas não devem ser confundidos com o significado corrente dessas palavras na química dos nossos dias, pois são de certo modo apenas pseudónimos ou disfarces.
Actualmente é habitual que tudo o que é oculto nos seja explicado com uma aparente ligeireza. A mente das pessoas encontra-se por assim dizer bloqueada para pensar de uma determinada maneira; os antigos mestres da arte utilizavam tais conceitos com a intenção de obrigar a mente a concentrar-se nos símbolos, até que a sua sementeira amadurecesse na psique, permitindo, por fim, a colheita do fruto da cura.
Através de processos especiais ao longo de vários meses, e considerando sempre a posição da Lua e dos planetas, esses essenciais podem ser extraídos das espécies utilizadas para esse fim (SEPARAÇÃO). Seguidamente é feita a limpeza (PURIFICAÇÃO), para se chegar à fase final, que é a nova união (COOBAÇÃO ou CASAMENTO QUÍMICO). Após essa união há a exaltação através da "PELICANIZAÇÃO", com a qual o remédio é levado a um nível subtil da matéria e da energia. A Ciência ainda hoje não consegue explicar por que motivo uma "PELICANIZAÇÃO" ‒ e especialmente a ritmada ‒ conduz a uma elevação do produto.
Todos estes métodos milenários de execução nada fácil são utilizados por espagíristas para a obtenção de uma essência espagírica de ação verdadeiramente global para o corpo, para a mente E também para a alma.
A terapia espagírica é aplicada no caso de doenças graves, inflamações, problemas crónicos, ferimentos e chagas, doenças gerais e do foro anímico, como medicina preventiva e também na cosmética.
A utilização dos remédios por via oral é feita com um pouco de chá, água, caldo de carne ou vinho diluído numa colher ou num copo, a fim de se reforçar a sua ação. Para a maior eficácia, estes produtos devem ser tomados meia hora antes das refeições ou então entre refeições, mantendo-os alguns instantes na boca.
A aplicação externa pode ser através de compressas, fricção, pomada, sempre com o produto diluído de acordo com as indicações de cada produto.
Esta resenha pretende, por um lado, aumentar o conhecimento sobre remédios espagíricos em Portugal e, por outro, dar-vos a conhecer um mundo da medicina verdadeiramente sem limites.
Graças à vida
Maria Feliz